Wednesday, March 13, 2024

VIVER ENTRE DOIS MUNDOS : Reflexões sobre tempo livre e envelhecimento em três tópicos

 O aumento da esperança de vida é, muitas vezes, verbalizado de uma forma negativa como um drama, uma complicação... Envelhecimento e declínio andam a par em quase todos os discursos mediáticos, levando a pensar que ficar mais velho é negativo, é perder competitividade e recusar tudo o que é novo (Araújo, 2018). Desengane-se o leitor/a, já que os/as mais velhos/as são essenciais na vida das comunidades, preocupam-se com a evolução social, são atores de mudança através da sua implicação em movimentos associativos e sociais, voluntários em hospitais e outras instituições, são políticos e sindicalistas, cidadãos com grande peso eleitoral pela sua experiência de vida e muitas vezes cuidadores/as incansáveis (Deschavannne, 2010). A sua reputação de inativos/as ou pouco ativos/as – olhada a partir da idade –, configura um abuso de linguagem, na medida em que se generaliza para toda a população idosa, ignorando as especificidades pessoais e condições de vida de cada pessoa e o seu direito ao descanso, depois de uma vida de trabalho. Estas interrogações impõem que sublinhemos a importância de uma genealogia das formas assumidas pelos desejos do repouso, da tranquilidade, distração, evasão e aventura, de uma história que deixe de considerar negativas as formas de passividade e positivas as formas de atividade, por mais insignificantes que sejam, de uma história da velhice menos assustada com a improdutividade do tempo e da ociosidade (Corbin, 2001: 15). Aliás, o ócio não é não fazer nada, mas sim fazer muitas coisas diferentes daquelas que são reconhecidas pelas formulações dogmáticas da classe dominante (Stevenson: 2016). Pensar o usufruto do tempo e do espaço na velhice requer uma nova forma de pensar, sentir e agir em relação à idade e ao envelhecimento. Exige considerar acesa a chama do combate ao estereótipo, ao preconceito e à discriminação como é, aliás, proposto pela Organização Mundial de Saúde na Estratégia de Envelhecimento Saudável 2020-2030. (...)

Araújo, Maria José. "Educadores sociais". LAPLAGE EM REVISTA 6 3 (2020): 75-82. http://dx.doi.org/10.24115/s2446-6220202063934p.75-82.

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